Olá caro amante de filmes de animação. Se você chegou até aqui provavelmente assistiu a animação Tenshi No Tamago (Angel’s Egg) e deve ter ficado, assim como eu, no mínimo confuso com essa animação “intrigante”. Outra possibilidade é que você esteja planejando assistir o filme, mas gostaria de ter mais informações sobre ele antes de “cair de cabeça”.
Se você faz parte do primeiro grupo de pessoas, provavelmente está no mesmo estado em que eu estava assim que assisti o filme (extremamente confuso). Mas saiba que ele foi planejado para ser confuso dessa maneira, pelos seus criadores: Mamoru Oshi e Yoshitaka Amano. Mas não se preocupe, pois pretendo esclarecer nesse texto do que o filme se trata.
Contudo, se você (caro leitor) faz parte do segundo grupo de pessoas mencionado, saiba que se trata de um filme extremamente complexo e difícil de se digerir e entender. Não é um filme com uma mensagem transparente, e pessoalmente, recomendo que assista com o objetivo de discutir a natureza dessa obra complexa com mais alguém.
A obra Tenshi No Tamago, se trata de uma animação japonesa feita em 1985 pelo estúdio de animação STUDIO DEEN do gênero de ciência e fantasia, escrita pelo grande autor japonês Mamoru Oshi. A animação em si não possui quase nenhum dialogo com foco maior nos cenários e os acontecimentos que envolvem os dois únicos personagens da história. Esses personagens são: uma menina pequena de cabelos brancos e pele pálida, que carrega um ovo consigo; e um homem também de cabelo branco alto que carrega um objeto metálico que se assemelha muito a uma cruz.
A animação faz referencias a bíblia e a mitologia cristã em vários momentos e na maioria dos poucos diálogos que temos entre os personagens. Por isso o tema do filme gira em torno da mitologia dos livros cristões, mais especificamente, a história de Noé do livro do gênesis. E mais do que isso, a animação distorce o final da história original do livro do gênesis com um final muito mais triste, no qual o dilúvio enfrentado pelos personagens não acaba em 150 dias.
O filme começa com a apresentação do personagem feminino que está explorando uma cidade aparentemente deserta a procura de agua e comida. Logo em seguida temos a apresentação do personagem masculino que encontra com a menina na cidade e apresenta uma curiosidade pelo ovo que ela carrega. E com o passar do tempo, o homem (que carrega uma cruz) segue a menina e os dois passam a caminhar pela cidade juntos.
Sem apresentar seus nomes ou mesmo aquilo que pretendem ao ficarem juntos os dois caminham pela cidade encontrando diversas sombras e figuras de peixes. Essas figuras são caçadas por pessoas sem rosto que tentam-nas fisgar com arpões em formato de cruz. A menina tem medo das sombras e se abriga no que parece ser uma igreja em que se cultua uma forma de peixe.
Após isso, o homem segue a menina até um templo onde ela morava, no qual acontece o dialogo que menciona o trecho do gênesis. Trecho no qual Noé ao enfrentar o diluvio solta um pássaro, com o fim da chuva, para ter a certeza de que nem todas as terras do mundo haviam sido cobertas com a agua. Contudo, o personagem de um jeito melancólico afirma que o pássaro jamais voltara e que se passou tanto tempo que as pessoas dentro da arca se esqueceram de quem são e de sua fé, e os animais se petrificaram.
A partir desse momento entendemos que essa seria a explicação do porque os personagens não disseram um ao outro seus nomes, pois eles não os lembravam mais. Após o dialogo a menina diz que o pássaro vive com ela no templo, e leva o homem até a criatura. Ao chegar no local o homem vê a assustadora figura de um monstro com assas petrificado, e entende naquele momento que tudo aquilo que havia dito antes era falso. Não havia um pássaro que foi enviado para a encontrar terra firme e todos os animais haviam se transformado em pedra.
Contudo a menina ainda carregava um ovo, e isso aumentava muito a curiosidade do personagem. Pois, “como poderia haver um ovo, se o pássaro já havia sido transformado em pedra?”. Foi com o cair da noite que o homem esperou que a criança dormisse para que lhe roubasse o ovo e então o quebrasse com sua cruz para saciar sua curiosidade. Na cena seguinte, vemos o ovo quebrado e a menina chorando e correndo em direção ao homem.
O homem desaparece e a menina cai num abismo onde passa por uma metamorfose, amadurece seu corpo e finalmente morre. Quanto ao personagem masculino, o encontramos na cena final do filme na frente da praia vendo um objeto estranho emergir da agua. O objeto possui diversas figuras, inclusive a da menina que estava lá, petrificada. A visão então se afasta do personagem mostrando que o cenário onde ocorreu todo o filme era um barco gigante de cabeça pra baixo afundando numa imensidão de um mar sem fim.
A mensagem, como já foi dito, que o filme passa é de uma distopia cristã no qual deus abandona os homens ou esquece-os e eles são deixados afundando cada vez mais na chuva que não para de cair no filme e que em dado momento cobrirá todo o barco e afogará a todos. Especialistas dizem que esse filme faz parte de um período da vida do autor, Mamoru Oshi, em que ele se desencantou com a fé cristã. E que, o filme se trata de uma representação da percepção decepcionada de Oshi, com relação a religião.
Mesmo assim o autor montou o filme com o objetivo de suscitar diferentes interpretações com ele mesmo não admitindo um sentido especifico para essa obra. O que é diferente de outras de suas obras como Ghost in Shell ou The Return of Lum.
Em um sentido mais poético podemos entender a obra como a representação do processo de empobrecimento da vida, pela perda da fé. E que o homem quando se desencanta de sua crença, se vê perdido e sem esperanças, como em um barco afundando na chuva de suas próprias lágrimas.